Saúde Coletiva é uma expressão que designa um campo de
saber e de práticas referido à saúde como fenômeno social e, portanto, de
interesse público. As origens do movimento de constituição deste campo remontam
ao trabalho teórico e político empreendido pelos docentes e pesquisadores de
departamentos de instituições universitárias e de escolas de Saúde Pública da
América Latina e do Brasil, em particular, ao longo das duas últimas décadas.
A crítica aos sucessivos movimentos de reforma em saúde,
originários da Europa e dos Estados Unidos, como os da Saúde Pública e Higiene,
Medicina Preventiva, Medicina Comunitária, Medicina de Família e Atenção
Primária à Saúde, delineou progressivamente o objeto de investigação e práticas
em Saúde Coletiva, que compreende as seguintes dimensões:
·
O estado de saúde da população, isto é, condições de saúde de grupos populacionais específicos
e tendências gerais do ponto de vista epidemiológico, demográfico,
socioeconômico e cultural;
·
Os serviços de saúde, abrangendo o estudo do processo de trabalho em saúde,
investigações sobre a organização social dos serviços e a formulação e
implementação de políticas de saúde, bem como a avaliação de planos, programas
e tecnologia utilizada na atenção à saúde;
·
O saber sobre a saúde, incluindo investigações históricas, sociológicas,
antropológicas e epistemológicas sobre a produção de conhecimentos neste campo
e sobre as relações entre o saber “científico” e as concepções e práticas
populares de saúde, influenciadas pelas tradições, crenças e cultura de modo
geral.
O trabalho teórico e
empírico no campo da Saúde Coletiva, desenvolvido em instituições acadêmicas,
deu suporte a um movimento político iniciado em meados dos anos 70, em torno da
crise da saúde, no contexto das lutas pela democratização do país. Esse
movimento difundiu-se a centros de estudos, associações profissionais,
sindicatos de trabalhadores, organizações comunitárias, religiosas e partidos
políticos, contribuindo para a formulação e execução de um conjunto de mudanças
identificadas como a Reforma Sanitária Brasileira.
As proposições desse movimento incluem uma profunda
modificação na concepção de saúde e seu entendimento como direito de cidadania e
dever do Estado. Postula mudanças no modelo gerencial, organizativo e operativo
do sistema de serviços de saúde, na formação e capacitação de pessoal no setor,
no desenvolvimento científico e tecnológico nesta área e, principalmente, nos
níveis de consciência sanitária e de participação crítica e criativa dos
diversos atores sociais no processo de reorientação das políticas econômicas e
sociais no país, tendo em vista a melhoria dos níveis de vida e a redução das
desigualdades sociais.
Do ponto de vista do SABER, a Saúde Coletiva se articula
em um tripé interdisciplinar composto pela Epidemiologia, Administração e
Planejamento em Saúde e Ciências Sociais em Saúde, com um enfoque
transdisciplinar, que envolve disciplinas auxiliares como a Demografia, Estatística,
Ecologia, Geografia, Antropologia, Economia, Sociologia, História e Ciências
Políticas, entre outras.
Enquanto PRÁTICA, a Saúde Coletiva propõe um novo modo de organização do processo de trabalho em saúde que enfatiza a promoção da saúde, a prevenção de riscos e agravos, a reorientação da assistência a doentes, e a melhoria da qualidade de vida, privilegiando mudanças nos modos de vida e nas relações entre os sujeitos sociais envolvidos no cuidado à saúde da população.
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